Para continuar nossas conversas sobre “estar perdido”, gostaria de falar sobre o fator coletivo desse sentimento. Já conversamos sobre o fato de que o vazio que muitas vezes sentimos não é somente nosso, também está ligado ao coletivo e ao modo de vida burocrático de nossa sociedade. Hoje, precisamos ir além e falar sobre como estamos em crise de identidade continuamente, tanto você, quanto eu, quanto nossos pais e provavelmente nossos filhos. Vem comigo?
Acho que já podemos considerar que somos sujeitos vivendo a pós-modernidade. Nesse cenário, o sujeito (o indivíduo) está descentrado e globalizado, tipo “Eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também”. Não somente os sujeitos, como também as nações estão passando por essa crise de identidade. Como isso aconteceu? Acredito que o fluxo cada vez mais em tempo real da Globalização fez com que as distâncias diminuissem, o tempo ganhasse outro contorno e interpretação. Os sujeitos e as nações estão cada vez mais flúidas, difusas e descentradas. Sem os contornos tão delimitados de antes, surge a angústia de ser tudo e ao mesmo tempo não ser nada, além das inúmeras possibilidades, que nos dão, por sua vez, inúmeras incertezas. São tantos atravessamentos que a cortina esburacada do nosso Eu em algum momento busca lembrar de que um dia já se sentiu inteira.
Tanto as fonteiras das nações quanto a nossa forma de nos relacionar com as pessoas estão diferentes. Ainda mais depois da pandemia da Covid-19, onde cada país tentou ao máximo se proteger dos estrageiros e cada pessoa foi aconselhada (e com razão, que fique claro) a manter o distanciamento social. O outro passou a ser um estranho, um potencial perigo. E assim, vamos cada vez mais nos descentrando. O estrangeiro vira um vilão, o vizinho do apartamento ao lado vira alguém não tão bem vindo em seu elevador. Será que estamos nos fragmentando, derretendo nossa humanidade?
No mundo Moderno, tínhamos de alguma forma, a sensação de pertença e localização social. No mundo pós-moderno, existe um vazio deixado pelas constantes e rápidas mudanças, deslocando o indivíduo do seu antigo centro, e nos levando para longe da utopia de uma identidade fixa e eterna. Se continuarmos buscando essa imutabilidade dentro de nós (e dos nossos países, coletivos) teremos sempre a frustração como nossa companheira. Isso porque estamos cada vez mais isolados, as cidades cada vez mais anônimas e impessoais. Segundo Stuart Hall, individuos isolados não conseguem construir a história. Isso por si só, já nos confere um caráter descentraliador.
Basta conversar com amigos e familiares, ver as notícias políticas e até a vida das celebridades para constatar que a grande crise que vivemos é a crise do sujeito, das identidades. Não há mais um centro referencial para gravitar. Existem vários outros pontos que podem se tornar referenciais, e de forma flúida e efêmera, temos a possibilidade de questionar a tudo e a todos, inclusive a nós mesmos.
Acredito que podemos nos experimentar como indivíduos fragmentados, aos pedaços, e toparmos essa busca criativa por se admitir sem centro. E assim, encontrar a segurança no mar das mudanças. Como? Acreditando que, seja o que acontecer, teremos as habilidades necessárias para lidar com a vida cada vez mais caótica. Talvez só a fé nas nossas próprias capacidades possa nos dar um norte em meio ao mosaico que se tornou a nossa identidade.
Como quem organiza uma caixa de botões e aviamentos, podemos nos descobrir com várias identidades ao mesmo tempo, mesmo sendo contraditórias entre si. E assim, como Stuart Hall nos disse, podemos começar a nos costurar com as nossas identidades, nos grudando às estruturas. Para isso, esqueça a coerência, a segurança, a completude, a união (o Yoga nunca foi tão necessário, não é mesmo? haha).
Estar se sentindo perdido parece ser o “novo normal”. Esse sentimento chega toda vez que precisamos analisar os pontos referênciais em que costuramo-nos. Tá tudo bem. Você pode mudar de ideia, de emprego, de gênero, de estilo, de padrão de consumo, de opinião… essa é a vida na pós-modernidade.
Como você se sente vivendo nesse mundo líquido? Comenta aqui embaixo!
Vamos conversar!
Com amor,
Grazy.
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