Quando fico muito tempo sem escrever nesse meu cantinho todo especial, meus dedos chegam a ficar duros ao tentar digitar a primeira frase. Acredite: se estou escrevendo por aqui é um sinal de que consegui vencer diversas batalhas auto-sabotadoras. Afinal, essa simples atividade me importa muito. E, normalmente, tememos fazer o que nos move a alma.
Para iniciar 2023 com o pé direito, resolvi escrever, mais do que pular ondinhas. Assim como o ser humano médio do século XXI, vivi momentos tensos durante a vida. Sinto que o ano de 2020 só terminou mesmo no dia de ontem. Tenho a sensação de que vivemos uma grande onda de quase três anos. Mas, intui que 2023 chegaria com uma energia nova. Na verdade, quero acreditar nisso!
Em 2022, senti pela primeira vez na minha pele a passagem do tempo. Engordei um tiquinho, notei a mudança no formato do meu rosto, troquei de emprego, adotei um gato carente, fechei meu primeiro pacote em uma clínica de estética, senti minha primeira dor na lombar, voltei pra academia, comecei a publicar numa nova revista aqui em São Paulo e… perdi minha avó materna.
Tudo indica que ela faleceu entre o dia 02/11 e 03/11. Estava dormindo, na sua posição preferida, com um braço atrás da cabeça e as penas meio abertas. Estava com um semblante suave. Partiu durante os seus sonhos, em sua própria cama, aos 76 anos. Uma morte sublime diante da sua vida emocionalmente sofrida. Fizemos o velório no dia 04/11, no dia em que a minha mãe completou 55 anos. Tristes coincidências na relação mãe e filha.
Depois do sepultamento, minha mãe e meus tios foram em sua casa, dar um jeito nas coisas e também, de forma inconsciente, acessar um pouco dela e ver o que ela tanto escondia.
Minha avó era uma pessoa caseira e que não nos deixava abrir seus armário, gavetas, estantes… qualquer coisa. Ela guardava tudo, não doava nada. Tudo poderia ser importante algum dia. Apegava-se a qualquer coisa, e as guardava como guardava seus próprios sentimentos e dores. Depois de selar o ciclo da morte e iniciar o ciclo do luto, nos vimos inspirados a abrir tudo o que ela trancava.
Descobrimos roupas manchadas de guardadas e comidas pelas traças, uma quantia de dinheiro muito bem escondida, cartas dolorosas que completavam mais de 40 anos, perfumes antigos nunca usados e sapatos descolados pela umidade. Naqueles armários haviam mais do que coisas velhas amontadas, haviam tesouros enterrados.
Roupas e sapatos não eram apenas roupas e sapatos, seriam também a oportunidade de se ver bonita ou de fazer outra pessoa feliz com a sua doação. As cartas tristes seriam uma oportunidade de mudar o rumo da vida, de perdoar e de seguir em frente, os perfumes poderiam ser uma chance de florescer juntamente a primavera, o dinheiro escondido uma maneira de viver melhor e curtir sua última fase de vida. Mas nada disso aconteceu. Minha avó enterrou seus tesouros e resolveu ir morrendo antes de parar de respirar.
Diante desse encontro com esses tesouros, pensei imediatamente nos talentos e recursos interiores que a minha avó também possuía e que foram também enterrados, seja pelos motivos que forem. Pensei em mim: essa jovem mulher um tanto quanto desapegada no material mas que também possa estar enterrando tesouros por aí.
A minha escrita, a minha arte, a minha fotografia, o meu canto, a minha dança, o meu senso estético, os meus acessórios, as minhas roupas, os meus enventos e conexões com as pessoas… estão meio enterrados. Mas, com a proximidade da morte e do luto pela minha vó não pude conter minha reflexão sobre a minha própria vida, sobre como ando vivendo e construindo minha criatividade.
Elizabeth Gilbert escreveu em “Grande Magia” que a vida criativa pode ser descrita em ter a coragem de revelar os tesouros escondidos dentro de si. É justamente isso que quero para o meu 2023, que quero para todas as pessoas do mundo: que tenhamos a coragem de trazer à tona os nossos maiores tesouros que estão escondidos dentro de nós.
Que consigamos identificar quais tesouros estamos escondendo para que possamos desenvolver a coragem de revelar o nosso próprio brilho, para iluminar caminhos e inspirar a todos!
Feliz ano novo!
Com amor,
Grazy.
Comente