Aprendi recentemente algumas coisas sobre o sofrimento e queria conversar com vocês sobre isso. Afinal, quem nunca sofreu, não é mesmo? Algo tão comum ao Ser Humano, me parece ainda pouco falado, um verdadeiro tabu em nossa sociedade viciada no barulho e na felicidade. Compramos, nos drogamos, nos distraímos como podemos para evitar o sofrimento, mas ele sempre nos pega na esquina.
Para escrever esse post, tentei me lembrar da primeira vez na vida que percebi que estava sofrendo, que estava passando por uma situação difícil. Como quase sempre acontece, minha primeira situação desafiadora foi na infância. Mas, apesar da pouca idade, parece que magicamente havia entendido que com o sofrimento a gente conversa cara a cara.
E assim foi, quase sempre. Tenho o meu jeito particular de acolher o sofrimento. E se você quer uma resposta sobre o que fazer com o seu sofrimento, na minha opinão, seria essa: acolha o sofrimento. Quando ele bater na sua porta, abra. Deixe ele entrar. Não precisa pedir para ele ficar. Não precisa ir lá na rua caçar o sofrimento para entrar na sua vida. Ele sempre chega! E quando ele chegar, atenda-o, pois ele é um mensageiro da vida.
Quando ele entrar, com seus pés embarrados sujando seu tapete bege, olhe-o nos olhos e pergunte: “O que você quer de mim? O que você quer transformar? Qual recado veio me dar?”. Converse com o seu sofrimento. Pode ser por meio da escrita, da fotografia, do artesanato, da música, dos seus looks, do yoga, qualquer meio criativo é uma via de conexão com o sofrimento. Entre em fluxo para ouvir os delicados sussuros do sofrimento.
Não tenha medo e não se preocupe. O sofrimento não tem a intenção de demorar. Ele quer apenas cumprir seu trabalho como pombo-correio da vida. Coopere com ele, não tente fazer ele ir embora mais cedo, não tente envenená-lo enquanto ele toma a sopa, não tente destraí-lo para que ele não fale o recado que veio dar. Isso só fará ele estender a sua estadia, uma vez que você não está ajudando ele a te ajudar. Os planos do sofrimento é ficar apenas o necessário e ir embora.
Mas, não se engane. O sofrimento é como um jardineiro silencioso, que vai fazendo o seu trabalho de forma sublime. E quando vai embora, te entrega uma alma mais sábia, expandida e mais resiliente. Você se percebe uma pessoa mais madura, mais tolerante e potente para a vida.
O sofrimento nos ensina que ele é um amante dos processos. Quando damos o tempo de que precisa, ele se elabora e vai embora quando cumpre a sua missão. Não podemos acabar com o sofrimento. É ele que termina, por si só.
E indo embora, quando o sofrimento vira a esquina, a gente já consegue agradecê-lo pela sua visita inesperada, mesmo que ainda estejamos enxugando as lágrimas que correm pelo rosto. Quando damos o último aceno, percebemos que depois de sua estadia, gostamos ainda mais de viver. Percebemos que a vida está acima da alegria e da tristeza, do ganho e da perda. A vida tem todas essas faces e o que nos faz viver bem é entender que o que ela quer de nós é apenas a coragem de abrir a porta para os mensageiros que ela precisar enviar, para a expansão da nossa própria alma.
Então, respire fundo, olhe nos olhos do sofrimento e pergunte: “o que você quer de mim?”.
Bom aprendizado.
OBS: Se o seu sofrimento é muito forte, não está indo embora e vem acompanhado de outros sintomas, não exite em procurar ajuda. Sofimento é diferente de depressão, da ansiedade e de outras questão psicológicas e até psiquiátricas.
Com amor,
Grazy.
OBS: as fotos desse post foram tiradas durante a descida de uma trilha feita em 2014, na Praia do Sono, Antigos e Antiguinhos, em Paraty, RJ. Era uma descida muito íngrime, escorrecadia, alta e eu estava exausta. Foi um sofrimento físico e emocional intenso. Mas eu conversei cara a cara com ele, até porque tinha que descer hahaha. Achei ótimo para ilustrar esse texto.
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