É possível fazer um retiro de silêncio em casa? Sim, é possível. Eu acabei de sair de um retiro de silêncio na manhã que escrevo esse texto pra você. O que posso dizer da experiência? É como se essa foto aí de cima fosse realidade em nosso interior: um monte de pequenos e grandes detalhes para colocar em seus devidos lugares, categorizar, arrumar, harmonizar, destralhar e deixar ir. O silêncio ajuda você a não se distrair nesse processo de reorganização interna, seja emocional, espiritual e até mesmo físico. É tudo que precisamos de tempos em tempos…
Bom, mas antes, vamos deixar algumas coisas claras desde o início. Não estou falando de um retiro aos moldes do Vipassana – aquele retiro de 10 dias exclusivamente de meditação e silêncio – e sim de um retiro personalizado. Seu retiro, sua casa, suas regras! Olha minha lua em aquário aí bem rebelde, dando o ar da graça! Mas, falando sério, aqui a intenção é se conectar minimamente com o seu interior e ir sentindo o que você de fato precisa. Vou explicar melhor de acordo com as minhas experiências! Segura na minha mão e vem comigo.
A primeira vez que subitamente tive essa ideia, foi em setembro de 2016, perto do feriado da independência. Eu morava na Praia do Rosa, em Santa Catarina, e estava com a vida bem cagada. Nada rolava bem e eu sentia que precisava ficar sozinha e me reconetar comigo mesma. Nessa época eu vivia sempre cercada de pessoas e estava começando a ficar sufocante simplesmente existir. Eu nunca tinha ouvido falar sobre retiro vipassana ou algo do tipo, fui seguindo minha intuição. Eu tive a ideia pela manhã, decidi e vi o local que ficaria até o final da manhã, comuniquei as pessoas, limpei o local e comprei suprimentos até o final da tarde e de noite já estava abrindo meu retiro. Maluquice? Não, meu amigo, é uma urgência enorme em me reconetar comigo mesma.
Nesse retiro eu fiquei em uma cabana super aconchegante, acima da que eu morava. Pedi a proprietária e ela liberou. Fiquei lá por três dias e meio. As regras eram: não poderia ver ninguém, falar com ninguém – óbvio -, não poderia ler, nem escrever, nem cantar, nem assistir a nada. Era acordar, meditar, rezar, ficar contemplando a natureza, cozinhar pra mim mesma – não comi nada industrializado nesses dias e nem animais -, meditar e rezar mais, e ir organizando os pensamentos e sacadas no ritmo em que vinham. Foi incrível como eu consegui revisitar TODA a minha vida, todos os acontecimentos, medos, traumas e fui organizando as gavetinhas emocionais. Também fiz massagem nos cabelos, na pele, acendi incensos, velas… deixe a sua intuição dizer o que você precisa. Ia dormir cedo, acordava cedo, e até a minha saúde foi melhorando ao longos desses dias.
Quando saí desse retiro, eu sentia uma clareza enorme sobre os caminhos que deveria seguir na minha vida. A dor que sentia estava sarada, a angustia no peito tinha passado, o nó na garganta tinha se desfeito. Foi realmente incrível.
Depois, em 2017, eu tentei fazer novamente um retiro de silêncio, se não me engano, durante o carnaval, mas esse eu não tive muito sucesso. Decidi ir para a antiga casa de praia da minha família, lá eu estaria sozinha. Eu ficaria 4 dias, mas só consegui ficar dois dias e meio. A rua estava em festa por conta do carnaval e o barulho me deixou ainda mais ansiosa e além do mais, comecei a ficar com medo de ficar sozinha em uma casa tão grande e distante da minha família. Não era como ficar em uma cabana na Praia do Rosa. Consegui fazer um ritual importante lá, escrevendo cartas, depois colocando fogo e enterrando as cinzas. Mas pedi pra alguém ir lá me buscar antes do que tinha previsto ficar. Talvez fiz o que mais precisava e a minha alma já queria voltar. Tudo bem, acontece. Respeite-se acima de tudo.
Nesse carnaval, de 2020, eu estava sentindo uma necessidade muito grande de aprofundar a minha espiritualidade e conter um pouco a ansiedade que a vida corrida estava me impondo. Ficar longe das redes sociais também era uma vontade enorme. Você consegue perceber que a cada momento o seu espírito e seu corpo pedem algo diferente? Minhas regras eram as mesmas da primeira vez que fiz, só que agora eu estaria convivendo com as pessoas, pois fiz o retiro no meu próprio quarto. Eu fiquei a maior parte do tempo no meu quarto, mas ia a cozinha, cruzava por pessoas e isso foi engraçado. Um conselho: se você puder ficar sozinho no local, acho que fica mais confortável para todos. É estranho mesmo você ver uma pessoa e saber que não pode falar com ela. Meus pais comemoraram o final do meu retiro! Agora eles já podem falar comigo haha.
Mas, nem tudo são flores. Com o início do retiro, também iniciei uma gastroenterite. Então, no primeiro dia, por volta das 17h, precisei quebrar o silêncio para ir ao médico, pois estava com febre, diarréia e um mal estar terrível, além de muito enjoo. Fui ao médico, fiquei no soro, comprei os remédios, e as 21h estava retornando ao silêncio. No início do segundo dia, eu comecei a sentir uma grande enchurrada de ideias, palavras, pendências. De início relutei em anotar, mas como estava ficando ansiosa e exausta com medo de esquecer essas informações, resolvi que iria anotar tudo que viria a minha mente. O resultado foram 4 folhas escritas em tópicos frente e verso. Foi a forma como consegui esvaziar minha mente. Foi a única coisa que escrevi. Agora vou reler, avaliar e ir colocando cada ideia ou pendência em seu lugar. Uma outra coisa que fiz muito foi pintar mandalas. A cada mandala, uma meditação, oração e uma forma de me interiorizar.
Saí do retiro agora pela manhã e estou me sentindo muito mais leve, mais intuitiva, criativa, animada e focada. Tive sacadas maravilhosas sobre a minha vida, minha saúde, minha carreira, meus relacionamentos e no retiro mesmo comecei o meu desafio da Quaresma, que é ficar sem glutén e reduzir o consumo de açúcar, recomendações médicas que sempre burlava. Para entregar o retiro, meditei e rezei. Durante a oração, pela intuição, veio a vontade de ver um vídeo da maravilhosa Bárbara Moreira. Vou deixar aqui embaixo para você se inspirar. Ele me ajudou a voltar à vida prática de uma forma renovada.
De forma geral, alguns conselhos:
– Pergunte-se o que de fato você precisa nesse retiro. É o seu espírito que te guiará, ele já sabe de tudo.
– Seu retiro, suas regras. Mas seja fiel à elas.
– Você é mais forte do que imagina e por mais que pareça um desafio, você consegue.
– Se possível, fique sozinho no lugar escolhido para seu recesso. Mas se não der, fiquei ao menos no seu quarto.
– Minha sugestão: não escreva, não leia, não assista a nada, não escute música, faça sua própria comida, cuide do seu corpo, faça um dia de spa, medite e reze muito.
– É normal escapar algumas frases, cantarolar uma parte de uma música, principalmente nos primeiros dias, mas não desista.
– Fique mais recluso. A ideia é eliminar distrações para você se conectar com a sua essência mais pura.
Qualquer dúvida, qualquer contribuição ou simples comentário, não hesite em escrever aqui embaixo. É sempre um prazer enorme ler e responder você.
Com amor,
Grazy.
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Tatiane Souza says
Amiga, que saudade que você estava desse blog né? E que delícia ler textos teus, sempre foi, mas agora ainda mais. Fiquei até com vontade de fazer um retiro desses, um dia quem sabe. ♥
Feliz demaaaaaaais de te ver aqui, criando, deixando fluir. Bem vida de volta a vida falante. Love you, te admiro tanto.
Grazy Pacheco says
Ahhh que maravilhoso esse comentário carinhoso e cheio de amor!
Eu tenho certeza que vc vai adorar fazer, no seu tempo. Você pode fazer menos dias, até meio dia, quem sabe?
Sim, tbme stou super feliz por voltar a escrever! Tinha que inaugurar minha nova fase falante com um post!
Muito bom escrever! Meu lado escritora sempre falando mais alto!
Volta também pra gente trocar comentários!
Beijos cheios de amor!
Áurea says
Acabei achando esse texto maravilhoso por acaso, mais como não acredito em acaso foi um a maravilhosa “instrução” .
Tenho muita dificuldade em realizar tarefas rotineira em “silêncio”, minha menta está sempre gritando algo ou querendo controlar fatos que já foram manifestado por isso a busca pelo assunto!
Mais eu gostaria de saber sobre a técnica de escrever e queima as cartas, se elas ajudaria a limpar minha mente ou tranquiliza-la de sua agitação?!
Gratidão !! Muita luz !!
Grazy Pacheco says
Oi Áurea! Como você está?
Mil desculpas pela demora em responder vc, mas seu comentário estava perdido em meio a vários outros spams.
Eu sei bem o que vc passa, minha mente tbm é muito tagarela. Eu revivio e/ou imagino muitas cenas, histórias… haha Por isso que retiros de silêncio são tão incriveis para mim.
A técnica de escrever cartas e queimar me ajuda a deixar o passado no passado. Me ajuda a não ficar remoendo coisas.
Até pq enquanto eu escrevo, entro em contato com o sentimento daquela cena do passado e vou tentando entender o que senti e como posso libertar essa emoção que ficou presa.
Acho que ajuda mais nisso. Na minha visão, a agitação da mente, a gente pode limpar escrevendo, limpando a casa, fazendo artesanato, dançando, correndo, caminhando, falando, pintando, bordando, meditando… qualquer coisa que nos faça entrar em um flow onde o corpo possa fazer algo e nos ajude a desbloquear o fluxo da mente.
Recomendo o livro “Lua Vermelha”, de Miranda Gray, que fala sobre formas de liberar a nossa energia criativa!
Espero ter te ajudado.
Qualquer dúvida, é só mandar!
Com amor,
Grazy.
Viviane de Almeida says
Ótimo seu retiro carcanal suas regras.
Grazy Pacheco says
Oi Viviane! Simm, isso mesmo! Cada um vive o seu carnaval como quiser! haha Desde que não faça mal a ninguém, está liberado! haha
Muito grata pelo seu comentário!
Beijos
Grazy