Eu estava andando pelas ruas do Flamengo, pensativa sobre imagem, beleza, padrões, procedimentos estéticos, espinhas e autoestima. De repente, enquanto esperava o sinal abrir, tive um momento “eureca!”: o que nos torna bonitos, atraentes, irresístiveis é justamente abraçar o que nos faz ser quem somos. Tá confuso? Vem comigo que te explico.
Não é sobre o que você faz, é sobre o pq vc faz
Antes de tudo, quero deixar claro que não sou contra quem faz plásticas, procedimentos estéticos, mudanças no estilo ou qualquer outra coisas. Esse post não está baseado no discurso “seja assim para sempre”. Eu acredito que a questão primordial é a intenção que está por trás de cada ato. Quero dar um passo atrás e pensar exatamente sobre o que se passa nas nossas cabeças antes de decidirmos qualquer coisa.
Beleza: 20% externa, 80% interna.
Então, estava andando pela rua pensando, até que me veio essa ideia: a beleza é 20% externa e 80% interna. Acredito que a estrutura da beleza é a confiança. Quer um exemplo? Sabe os galãs feios? Sabe aquele peão suado que conquista a mocinha patricinha durante o filme? O que eles possuem em comum? Será que é uma atitude, uma confiança, uma aura de charme… Acredito que sim. E na minha humilde opinião, esse charme surge da confiança, da autoestima da pessoa. Ela se torna magnética, constrói uma aura de magia em torno de si. Além disso, a confiança faz a pessoa ficar mais influente, e a influência é tão sexy, né?
Para nós, mulheres, isso é muito mais desafiador. A cultura não nos ajuda. Toda a nossa sociedade é construída de uma forma que o que importa em um mulher é o seu corpo. E o corpo dentro de padrões irreais, enlouquecedores e cruéis. Assim, as mulheres ficam “distraídas” em conquistar esses padrões de corpo e incitadas a competirem umas com as outras, como num grande mar de hipnose coletiva. Mas, o que faz uma mulher ser atraente, bonita, sedutora?
Será que não seria o conhecimento sobre o seu próprio corpo, o poder sobre suas decisões, a clareza sobre as suas próprias opiniões? Será que não poderia ser a liberdade para gostar do que realmente gosta? Será que não seria o bom humor de quem consegue rir de si mesma, o que só a segurança nos dá? Será que não seria o brilho nos olhos de quem trabalha com o que ama e se satisfaz com as suas criações? Será que não seria o riso frouxo e iluminado de uma mulher que está em paz com o fato de ser mulher?
Enquanto corremos atrás de estarmos magras, com a pele lisa, sem rugas e comprando roupas da última tendência, não conseguimos quase nada disso. Estamos lutando para sermos vistas, admiradas e aceitas. Mas por quem? Qualquer um, menos por nós!
O julgamento como uma confissão do outro.
Minha mãe deixou os cabelos completamente grisalhos. Foi uma dura transição capilar, em todos os sentidos, pois ela também deixou a química para alisar os cabelos. Ela recebeu tantas críticas duras, e todas vindas de mulheres. Eu as entendo, pois a minha mãe abriu uma porta para cada uma delas. Elas mostrou que é possível estar totalmente grisalha, e que elas também poderiam fazer essa escolha, caso quisessem. Minha mãe as mostrou que é possível aceitar a passagem do tempo, que existe esse caminho. E ao mostrar essa opção de cabelo, as outras mulheres se viram no papel de reafirmar os padrões estabelecidos, até para assegurarem a sua própria escolha de identidade. É complexo, eu sei. E na minha cabeça são apenas hipóteses. Por outro lado, há muitas que criticaram a minha mãe e hoje se sentem seguras para trilhar essa opção, e estão nesse processo.
Eu acabei de fazer 30 anos e confesso que muita coisa passa pela minha cabeça. Sofro de acne adulta e estou em um processo bem agudo, estudando minha saúde e fazendo novamente um tratamento. Minha pele está marcada, dolorida e cheia de espinhas. Junto a isso, começam a se fazer notar os primeiros sinais do tempo, flacidez nas bochechas, pálpebras e assimetrias mais marcadas. Penso em criar coragem e consertar o meu desvio de septo, penso em colocar botox para não ficar com rugas, penso em estimular o meu colágeno, em voltar a malhar para fortalecer os meus músculos. Veja bem, na minha cabeça, saúde e estética acabam se misturando.
A primeira intervenção estética – e única, além de tratamentos para espinhas – que fiz foi usar aparelho aos 7 anos de idade. Minha mãe estava pensando na estética, mas também na minha saúde. Eu tinha dentes enormes em uma arcada dentária minúscula e já não respirava muito bem. Foram anos de aparelho, mas não me arrependo de nenhum deles. E sou muito grata pois com certeza facilitou a minha vida social. “Nós e os outros” sempre vão estar em constante movimento. Não tem jeito. As coisas se misturam.
Em meio a tudo isso, ontem fiz um post muito especial lá no meu Instagram – não me segue por lá? Como assim? Veem! – onde falei sobre autenticidade e sobre o meu processo de acolhimento das minhas espinhas. E acho que esses posts se completam, sabe? Acho que para melhorar/mudar algo, antes precisamos da aceitação e da disponibilidade em aprender com aquilo.
Quer ser linda? Divirta-se!
Sendo assim, no meio da Marquês de Abrantes, descobri que o que me faz bonita hoje é aceitar amorosamente ser quem eu sou, do jeito como estou. Com espinhas, com desvio de septo, com três quilos a menos e flácida, com cabelo cheio de frizz e sem corte, sem ir ao salão desde março. Quer dizer que vou estar nos padrões que esperam? Não! Quer dizer apenas que estou sobrevivendo a esse 2020 caótico, que estou fazendo o meu melhor com o que tenho e a partir do cenário que estou e quer dizer que me amando nessa fase não muito tranquila, eu consigo fazer escolhas – seja sobre o que for, inclusive estéticas – pautadas no meu valor como Ser e não colocando na mão do outro a decisão de me dizer quanto eu valho.
A partir desse exercício, quando eu decidir fazer ou não botox, operar o desvio de septo ou não, deixar o cabelo grisalho ou virar loira, será a partir de mim mesma e da vontade de me divertir com a vida, e não por uma necessidade de me encaixar e querer que os outros me amem ou me admirem. Será 100% assim? Não sei, pq como eu disse, as coisas são muito fluídas. Mas eu espero que seja uma expressão de liberdade para ser quem eu verdadeiramente sou.
A sua “feiura” – física, espiritual, emocional, etc – te torna lindo! Pq é a partir dela que você tem a oportunidade de tomar lições importantes da vida, para evoluir e ser alguém melhor.
Como isso chega pra você? Comenta aqui embaixo! Vamos conversar?
Com amor,
Grazy.
Look: Conjunto de veludo da Ana Soncini Atelier | Óculos: Lojas Renner | Sandália: Fomenta
Fotos: Graziano Pacheco
Local: Colônia Juliano Moreira, Jacarépaguá, Rio de Janeiro.
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