
Tá aí um assunto polêmico entre as pessoas que não estão ligadas ao mundo da Moda: como entender um desfile? Pra que serve? Pq tantas roupas estranhas? O que fazem com aquelas roupas depois? Enfim, muitas dúvidas que são super pertinentes. Resolvi fazer esse post para explicar o meu ponto de vista e contar um pouco como eu analiso um desfile, para você aprender e ficar de olho no que vem por aí. Vamos comigo?
Como surgiram os desfiles de moda?
Antes não existiam estilistas e nem casas de alta costura, lojas de roupas, essas coisas. Eram as costureiras que iam à casa das suas clientes – quem não tinha tanto dinheiro fazia as suas próprias roupas -. Charles Frederick Worth – que também é conhecido como o pai da alta costura -, da Maison Worth, no final do Século XIX, foi o cara responsável por criar o status de estilista e não mais o de costureiro. Foi ele também que deu força a ideia das clientes irem até a Maison, escolherem os tecidos e fazerem várias provas de roupa lá. Ele foi o primeiro a criar coleções de acordo com as estações do ano. Depois que as peças que forma a coleção ficavam prontas, eram mostradas às clientes em um grande evento. Foi um ato revolucionário, foi a emancipação da costureira – que faz o que a cliente pede – para o papel do estilista – que propõe ideias novas às clientes -. As casas de tecidos também tiveram participação nisso, devido ao seu interesse em mostrar os lançamentos de tecidos às clientes.
O interesse dos estilistas e das casas de tecido eram agradar a clientela. O formato desse evento era diferente, as clientes ficavam mais próximas das modelos e das roupas, podendo até tocá-las. O foco era a venda, propriamente dita.
E hoje? Pra quê serve um desfile de moda?
Com o tempo os desfiles foram perdendo o foco na venda em si e foi indo mais para o lado do marketing, de contar uma história, de fazer um espetáculo, onde todos os elementos desse show contam e agregam sobre a marca. Nos desfiles, as marcas contam histórias, falam sobre o seu trabalho, suas inspirações, seu status, as técnicas e materiais utilizados, as tendências em que acreditam e mostram a todos o DNA da marca e com quem eles conversam. É muito mais do que roupa! A roupa vira mais um elemento dessa contação de história. No meio disso tudo, a ideia também é criar desejo nos consumidores, de modo que eles também queiram participar do universo que a marca propõe.
Esse espetáculo também tem o intuito de mostrar a mídia de moda as ideias da marca, que serão traduzidas para o público comum nas revistas e outros meios de comunicação. O desfile serve para agregar ainda mais valor a marca e mostrar o que ela é, o que pensa e para quem ele existe.
As peças conceituais servem para contar uma história, criar uma magia e um espetáculo, que ficará no inconsciente das pessoas e que poderão ser vistas de forma diluída nas lojas mais tarde. Mas a aura permanecerá ali. Os desfiles proporcionam esse mergulho do mundo da Moda e é claro, que como tudo nesse ano de 2020, estão se transformando, ainda mais devido às novas tecnologias e meios de comunicação. Muitas pessoas já estão fazendo experimentos com vídeos, hologramas, etc. Mas os desfiles continuam sendo uma grande ferramenta de marketing, venda e de entendimento dos conceitos de cada marca dentro do mercado de Moda. É claro que precisamos nos atualizar, até pq eu acredito muito no mercado de roupas usados, dos vintages e do aluguel de roupas. Como ficarão os desfiles nesse novo cenário? Já dá para a gente ir pensando.
Alguém usa aquelas roupas depois?
Algumas pessoas usam sim. São os fashionistas, artitas, revistas, celebridades e modelos que posam para revistas. Outras voltam para os ateliers de seus criadores, mas são encaradas como capítulos da história da marca. As roupas de desfile não são feitas para serem vendidas e por isso não são feitas várias iguais, são só aquelas.

Vestidos longos da passarela para o verão 2021. 1: Jonathan Simkhai | 2: Valentino | 3: Rouland Mouret.
como entender um desfile?
Em primeiro lugar é preciso deixar o seu gosto pessoal de lado. Não é um julgamento a partir dos seus gostos, é uma análise, uma interpretação.
Depois você precisa ver quem é essa marca. O que ela já fez, quem é o estilista que está comandando ela, qual é o público alvo deles e dar uma olhada nos últimos trabalhos. Isso dá um bom panorama sobre qual universo estamos adentrando.

Vestidos brancos com movimento e leveza para o verão 2021. 1: Altuzarra | 2: Alaia| 3: Elie Saab.
Depois, a gente precisa prestar atenção nas informações sobre o desfile. Normalmente a marca disponibiliza um release, onde conta um pouco das suas inspirações e referências. Isso já ajuda bastante. A gente precisa observar o cenário, a maquiagem, o cabelo, a música do desfile, o conceito do desfile, a forma como as roupas estão vestidas – o styling – e a imagem geral das roupas na passarela. Qual história esse desfile quer nos contar?

Mangas bufantes e amarrações para o verão 2021. 1: Cinq à Sept | 2: Jacquemus | 3: Carolina Herrera.
Também precisamos observar a parte técnica das roupas, que são os acabamentos, os materiais, as estampas e cores escolhidas, a silhueta de cada roupa – São marcadas no corpo? São volumosas? Cintura marcada ou flúida? -. Também podemos elencar as peças que se repetem, as elegendo como peças chave na coleção aprensentada. Entram nessa etapa também os destalhes, tais como os bordados, aviamentos, recortes, amarrações, viéses, sapatos, acessórios e a beleza do desfile.

Listras coloridas, pequenas bolinhas em vestidos e o combo: quimono, top faixa e hotpants. 1: Oscar de La Renta | 2: Chanel | 3: Dior.
Tudo, absolutamente tudo, está ali por algum motivo. Dentro desse ambiente nada é aleatório. Cabe a nós interpretar os desfiles como se fossem visitas a museus, ao teatro ou ao cinema cult.

Recortes nas roupas, bijus com miçangas e bolsas mais rústicas para o verão 2021. 1: Victoria Beckham | 2: Chanel | 3: Fendi
E você? Curte ver os desfiles? Não curte? O que acha?
Comenta aqui embaixo, vamos conversar!
Com amor,
Grazy.
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